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quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Rock'n'Roll Meia Maratona Santander Totta 2017


Em 2014, depois da Corrida do Aeroporto, escrevi isto: Porque correr é isto mesmo. É passar por um desconhecido e dizer-lhe que "a meta é já ali", que "é só mais um bocadinho" e "vamos juntos até ao fim?", e fazer-se isso mesmo, cruzar a meta com esse desconhecido e saber que nos ajudámos mutuamente. É o que este aperto de mãos representa.


Em 2017, durante a Meia Maratona de Lisboa , eu fui esse desconhecido, onde várias pessoas que passavam por mim ou que estavam no público me incentivaram a continuar. E isto emocionou-me de uma forma que não estava à espera.

Quando em Agosto fui presenteado com um dorsal para a Maratona de Lisboa o meu primeiro pensamento foi que a conseguiria fazer, que a distância não era novidade para mim e que melhor ou pior iria cortar a meta. Comecei a treinar mas só conseguia correr cerca de 10kms, com algum custo, e 1 a 2 vezes por semana. Entretanto inscrevo-me na Corrida do Tejo para me dar outra motivação mas os treinos continuaram iguais. Apesar disso, consegui fazer uma corrida melhor do que esperado. Isto deu-me um acreditar que terminar a Maratona seria, de facto, uma possibilidade. Só que entretanto, a 10 dias da mesma, e com apenas 3 treinos de 7kms, decidi fazer um treino de 21kms para perceber como estava. O resultado foi tão mau que quando acabei o treino enviei uma mensagem a um amigo a perguntar se queria trocar o dorsal dele da meia maratona pelo meu da maratona. Ele queria muito fazer a maratona e eu no máximo conseguiria faz os 21kms. Proposta aceite e em vez de fazer a minha vida para estar em Cascais às 8h, às 8h estava na Estação do Oriente pronto para apanhar o autocarro que me levaria até à partida na Ponte Vasco da Gama. Saí da cama sem vontade nenhuma de ir correr, fui passear o cão sem vontade nenhuma de ir correr, tomei o pequeno-almoço sem vontade nenhuma de ir correr, fiz a viagem de autocarro até à partida sem vontade nenhuma de correr, ter de esperar mais de duas horas na ponte para começar a correr, tirou-me a ínfima vontade que tinha de correr. Cheguei tão cedo que entre mim e a partida só havia a zona de "elite" e os Securitas.


Sentei-me para não cansar as pernas e fiquei na conversa com o João Campos que, na ânsia de fazer PBT e ganhar uma misteriosa aposta, chegou ao mesmo tempo que eu. O sol cada vez mais alto, a temperatura cada vez a subir mais, a hora de partida a chegar e toca de levantar que já não havia espaço para estar sentado, tal a quantidade de pessoas que já se empurravam atrás de mim. Quando faltam  20minutos para a partida tomo um gel da Stealth porque a digestão do pequeno-almoço estava feita e havia que carregar baterias. O pessoal de trás começa a empurrar cada vez mais, dá-se a partida para os da frente e os Securitas continuam à nossa frente de braços abertos a não deixar passar.  Primeiros gritos a exigir passagem e lá se desviam. Arrancava para conquistar mais uma meia maratona!


Como estava mesmo à frente e não gosto de ir ali a empatar quem vai para correr rápido, também eu tento ter um arranque veloz. Ao fim de 500m já tinha a boca completamente seca e respirava de boca aberta. Olhei para o relógio e ia à estonteante velocidade de 4:30/km. Como senti que a respiração estava a estabilizar, decidi manter aquele ritmo até sair da Ponte. Seriam 6kms e pouco menos de 30'. Nos meus pensamentos comecei a criar a estratégia para a prova: fazia o primeiro terço a este ritmo, o segundo terço a uma velocidade menor que me permitisse descansar as pernas e recuperar fôlego, e o último terço da prova num processo de aceleração continua para acabar a prova em grande.

Quando passei aos 7kms a média estava nos 4:35/km, o que era a velocidade a que corria quando o treino estava no seu auge e quando fiz o meu melhor tempo numa meia maratona. (Sou um gajo que facilmente se deixa levar pelo coração em vez da cabeça. Por isso, quando aos 7kms me sinto bem, lá se vai toda a estratégia ao ar.) Mas ao entrar no Parque das Nações e passar nos primeiros túneis o ritmo abrandou um pouco para os 5:30/km. E em vez de continuar àquele ritmo mais lento, forcei para os 5/km. Nada de grave até chegar aos 10kms, onde, apesar das oscilações de ritmo, fiz um tempo de 49'. Novamente, comecei a pensar que podia fazer um tempo próximo das 1h50'.

Até que cheguei ao km12 e, tal como no outro treino, comecei a quebrar. Mas uma quebra que me obrigou mesmo a caminhar. O calor que se fazia sentir, a juntar às condicionantes da EM, deixaram-me num estado de cansaço muscular e respiratório que não me permitiu correr mesmo que lentamente. A cada abastecimento bebia uma garrafa de água e despejava outra pela cabeça e pelos braços, numa tentativa de arrefecer o corpo. Foi aqui que começaram a passar as primeiras pessoas que me cumprimentavam, perguntavam se estava tudo bem e me incentivavam a não desistir. E quando alguém abranda ou para de correr para saber como estás, é algo que mexe connosco.

Daqui até à Praça do Comércio foi um constante entre correr, trote e caminhar. Queria começar a subir ao Marquês com 1h30' e já ia com pouco mais de 1h40'. Tinha pouco menos de 20' para fazer os cerca de 3kms que faltavam e conseguir um sub 2h. Se alguma réstia de esperança tinha, rapidamente desapareceu quando tive de voltar a caminhar ao passar nos Restauradores. Instalou-se algum desânimo que só era interrompido quando, em sentido contrário (a descer a Avenida da Liberdade), me cruzava com alguém que me reconhecia e gritava pelo meu nome ou me desejava força. E nem mesmo quando já estava no sentido descendente a coisa ficou mais fácil e só não caminhei mesmo por vergonha.



Enquanto descia a Rua Áurea olhei para o relógio e já estava com um tempo acima das 2horas. Dos três objetivos a que me propus para esta prova (correr sempre, ficar abaixo das 2h, sobreviver para contar a história), sabia que só conseguiria cumprir o último. Curva para a esquerda, curva para a direita, entrar no tapete vermelho e cortar a meta com 2h03m11s! Não foi de todo o meu melhor tempo, mas também não foi o meu pior. Acima de tudo fiquei feliz por ter terminado e por ter decidido, mesmo que à última da hora, trocar de prova. Penso que tivesse ido à maratona, havia uma grande probabilidade de desistir.

Os punhos cerrados é de satisfação por cruzar a meta.


Sobre a prova e a organização, muito se tem falado que falharam nisto e naquilo, que cada ano está pior, mas eu apenas posso falar daquilo que vivi e presenciei.
Levantamento do dorsal: A esmagadora maioria acha que não se justifica estar mais de 1hora para entrar na feira. Quando fui à Maratona de Madrid esperei o mesmo ou mais tempo para entrar na feira e outro tanto para ir à pasta party. O que acontece é que, com uma feira aberta desde quinta-feira, muitos decidiram ir só no sábado levantar o dorsal. O único erro que aponto é terem aberto as portas só às 10h. A possibilidade de trocar de dados lá também foi algo positivo.

Horários: A partida da maratona às 8h parece-me bem, a partida da meia maratona às 10h30 já não. O maratonista amador médio demora cerca de 4horas a completá-la, e o meio maratonista amador médio demora cerca de 2horas a completá-la. Se o arranque das provas tivesse uma diferença de 2h em vez de 2h30, haveria uma maior enchente de atletas a chegar ao mesmo tempo, aumentando assim a festa. Mais, quando a meia maratona começa às 10h30 e o último autocarro para a partida é às 9h, significa que mesmo assim tem de se esperar mais de 1hora numa ponte apinhada de gente, sem espaço para alguém se mexer ou sentar, e debaixo de um sol abrasador.

Abastecimentos: O primeiro abastecimento foi aos 6kms e foi apenas de água. A partir daqui ou era água, ou isotónico, gel e ainda houve um de sólidos com bananas e laranjas. Nunca senti que o espaçamento entre os abastecimentos fosse longo demais e em todos havia suficiente para quem lá passava. Seja uma prova de estrada ou de trilhos, nunca as encaro indo totalmente dependente dos abastecimentos da organização, por isso levo sempre alguma nutrição comigo e faço a gestão com aquilo que sei que vou encontrar.

Percurso: A partida de cima da Ponte é sempre giro, dando-nos uma vista fantástica sobre o Rio Tejo e a cidade. Como desta vez os percursos da maratona e da meia maratona não se juntarem, nem haver retorno a meio da prova, faz com que se consiga manter o focus na nossa corrida e não em tentar encontrar aquele amigo que vai numa prova diferente. ajuda também a não desanimar a ver passar por nós os primeiros quando ainda nem chegámos a meio. O facto da prova terminar no centro da cidade, em vez de perto  dum Centro Comercial no Parque das Nações, fez com que as ruas estivessem cheias de pessoas a apoiar-nos. Muitos deles turistas, é certo, mas eram os que faziam a festa ao longo do percurso. Uma grande enchente espanhola que gritava tanto para os seus compatriotas como para os restantes. As ruas entre o Rossio e o Arco da Rua Augusta fizeram-me lembrar a Maratona de Madrid onde tínhamos metro e meio de rua para corrermos, tal eram a quantidade de pessoas a ver-nos e a aplaudir.

Medalha e ofertas finais: A medalha finisher não só é bem gira como ainda tem espaço para se poder gravar o nome e o tempo de prova. No saco com a água e banana, o pacote de leite era dispensável. O gelado de água em vez do Magnum de champanhe do outro ano foi uma melhoria. Se bem que uma garrafa de isotónico seria o ideal.


NOTA FINAL: Quero agradecer a todos os que me cumprimentaram ou que abrandaram para saber se eu estava bem ao longo da prova, e pedir desculpa a todos aqueles a quem não respondi, mas a verdade é que a luta que travava para continuar levou-me todas as forças. Mas todas as lágrimas que libertei durante e após a corrida foi por vossa causa. Até breve, numa estrada ou num trilho.


terça-feira, 3 de outubro de 2017

Decisões nada fáceis.

 
 
Ser-se inteligente também é conhecermo-nos a nós próprios, as nossas capacidades em determinado momento da nossa vida e as lutas que podem ser travadas.

E, neste momento, vivo uma espécie de paradoxo no meu cérebro, onde metade diz que consigo e a outra metade diz que talvez não seja bem assim. Passo a explicar:

A Corrida do Tejo deu-me um boost de ânimo incrível por ter conseguido um tempo abaixo do esperado e, acima de tudo, por ter consigo meter a cabeça a trabalhar quando as pernas queria abrandar. E saí de lá a pensar que a Rock 'n' Roll Lisbon Marathon seria uma hipótese viável. Que, melhor ou pior, a conseguiria terminar. Mas passei a semana seguinte sem treinar vez nenhuma, tendo decidido no domingo passado ir fazer um treino "longo". Queria fazer 21kms e perceber como é que as coisas estavam realmente. Decidi começar o treino no Parque das Nações, correr 10.5kms em direção à Estação de Santa Apolónia e voltar para trás. O terreno é plano e não teria de me preocupar em desviar-me de carros durante o trajeto todo. Às 18:30 (+/-) comecei o treino. As pernas estavam relativamente soltas e os pulmões a bombear ar com facilidade. Fiz os primeiros kms a um ritmo estável de 5:30/km, ritmo que pensava usar na maratona. Este ritmo permitiu-me chegar aos 10kms com um tempo de 59' e a sentir-me bem a vários níveis. Mais uma vez, como na Corrida do Tejo, quando as pernas queria abrandar, dava ordem à cabeça para as meter na linha, e elas lá coltavam ao ritmo que pretendia. A primeira vez que bebi água foi aos 13kms, quando já estava de novo a chegar à marina. Quando parei para beber e quis arrancar, as pernas mostraram-se muito relutantes em fazê-lo. Rapidamente estava a correr a um ritmo perto dos 6:30/km e quando pensava em acelerar, a coisa durava pouco tempo. Ao chegar aos 15kms de treino ia com 1h30m. Pensei para comigo "15+15= 3horas... +12kms= 1h10m... com jeitinho acabo ali pouco acima das 4h.". Foi também aqui que decidi enviar mensagem à namorada a avisar que estava bem e já a voltar para o carro. Ora como enviar mensagens e correr não dá muito jeito, parei. Parei e quando quis arrancar de novo, as minhas pernas pareciam as das estátuas que estavam ao meu lado: de pedra e sem se mexerem. Arrastei-me por mais 2kms até dar o treino por encerrado, totalizando 17kms em 1h44m.

Este treino fez-me perceber que a maratona no dia 15 de outubro não será a melhor ideia para quem ainda não está a 100% e está sem treino indicado para uma distância de 42kms. Já me doía os gémeos da perna esquerda (que foi o lado mais afetado pela perda de força) e por muito que a cabeça dissesse para as pernas se mexerem, não havia hipótese delas o fazerem. Caminhei os cerca de 700m que me separavam do carro e, enquanto o fazia, enviei mensagem a uma pessoa para saber se queria trocar o seu dorsal da meia maratona pelo meu da maratona. Houve resposta positiva da pessoa e um email enviado à organização a pedir a troca de dados (a qual ainda não teve resposta).

Assim, é muito provável que no dia 15 em vez de partir de Cascais, parta da Ponte Vasco da Gama e tenha de levar, ali nos kms finais, com a bomboca de subir a Avenida da Liberdade. Esta decisão não foi tomada sem pensar bem nela e, apesar de confiar em mim, acho que não vale a pena ir castigar o corpo com uma coisa que não me vai trazer nada de fantástico para a vida. Prefiro terminar a Meia Maratona mesmo que em dificuldades, do que arrancar para a Maratona e ter de desistir a meio, onde, provavelmente, nem haverá público para me ajudar. Pode ser que, entretanto, a coisa melhore, faça mais alguns treinos decentes e "pingue" um dorsal para a Maratona do Porto de alguém que não possa ir. :)

domingo, 1 de outubro de 2017

Corrida do Tejo 2017 - Quando um erro compensa.

A Corrida do Tejo 2017 ficou marcada por 3 acontecimentos, onde apenas dois deles mereceram destaque nos grandes meios de comunicação: a vitória masculina de Jesus España, um atleta espanhol; a vitória feminina por parte de Ercilia Machado, mesmo depois de uma queda logo nos primeiros 30/40metros; o engano do Bearded Runner que lhe permitiu fazer um tempo muito abaixo do esperado. Claro que sobre este último acontecimento só eu é que falo, mas pronto...





Mas vamos lá ao que interessa. Esta prova marcava, para além de um regresso mais auspicioso às corridas, o correr a primeira vez com a tshirt mágica da SPEM.



Depois da Corrida Sporting, em que não consegui fazer o tempo que queria por segundos, fui para esta com pouco treino mas com vontade de baixar dos 60minutos. Mais uma vez, pode parecer um tempo modesto para quem já correu 10kms em 42', mas as coisas são como são e tenho de me adaptar ao que tenho agora. Em agosto corri 3 vezes e em setembro fui um "treino" de bicicleta e corri 2 vezes, sempre distâncias abaixo dos 10kms. Apesar disso, no dia da prova, às 9:10 estava a estacionar o carro em Algés. Desta vez fui sozinho e, enquanto estava na minha zona de partida, senti um nervoso que já não sentia há algum tempo.

Sabendo de antemão que não iria conseguir um tempo maravilhoso, mesmo assim enviei um comprovativo de um tempo abaixo dos 45', de outra prova, e consegui um lugar na caixa sub45 e na primeira vaga. Fi-lo consciente que se partisse muito atrás e a ter de ultrapassar muita gente, não conseguiria meter um bom ritmo inicial e que comprometeria o tempo que queria obter. Assim, antes da partida, enquanto estava no meu mundo de pensamentos, olhei em redor a tentar encontrar o pacer dos sub50, de forma a colar-me a ele quando passasse por mim.

Tiro da partida e lá vou eu. Comecei a um ritmo ao qual há muito não corria, abaixo dos 5'/km, e parecia que ia a uma velocidade estonteante. Neste primeiro km fui ultrapassado por quase todos os que estavam atrás de mim, só ultrapassando velhotes que, vá-se lá saber como, partem nestas corridas colados ao grupo da elite, e vão o caminho todo a andar e a prejudicar quem lá vai para correr. Entretanto, vejo a passar ao meu lado um pacer, olhei para a bandeira mas estava toda enrolada e não dava para perceber qual era. Assumi que era o sub50 e mantive um ritmo em que ia atrás dele uns 100m. Estava a sentir-me bem, as pernas estavam a responder e os pulmões a trabalharem bem. De vez em quando olhava para o relógio e percebia que, se conseguisse manter aquele ritmo, conseguiria um bom resultado. Mas isto era anda o inicio da prova, onde tudo é plano. Quando cheguei à primeira subida, ali ao lado do Jamor, embora as pernas continuassem a responder, o ritmo passou logo para a casa dos 5.20-5.30'/km. Foi aqui que tive de usar a cabeça pela primeira vez e obrigar as pernas a não abrandarem. Pensamento de "sou capaz" e quando dei por mim já estava a descer. Aqui, como em outras ocasiões, tive de me lembrar do que o grande José Carlos Santos (que me preparou para o MIUT em 2016) me disse sobre aumentar velocidade. Não é alargar a passada, mas sim aumentar a cadência da mesma. E na descida já estava a abrir demasiado as pernas.

Por esta altura estava a aproximar-me do meio da prova e o pacer já era um ponto vermelho lá ao fundo. O problema de provas de estada com grandes retas é que vemos a malta lá ao fundo mas estão mais longe do que parecem. Encosto-me à esquerda para apanhar uma garrafa de água e quando olho para a direita o que vejo?! Outro pacer com uma bandeira azul... A bandeira não estava enrolada e, para meu espanto, era o pacer dos sub45'! Ou seja, durante 5kms corri atrás do pacer dos sub40' quando pensei ser o sub50'. Isto deu-me um ânimo extra de que estava a correr tudo bem. aliás, melhor que o esperado! Decido fazer o que fiz com o outro e tentar acompanhar à distância. Se o conseguisse manter debaixo de olho até ao fim, provavelmente conseguiria um tempo abaixo dos 50'.

Mas ali a partir dos 7kms começou a custar. As pernas não conseguiam manter o ritmo, por muito que a cabeça dissesse para acelerar. Tenho, inclusivamente, de parar um pouco para passar beber água e lavar a cara. O calor já se fazia sentir com força e as minhas pernas estavam a perder as forças. :) Quando me recompus, arranquei e ao chegar à ingrata subida dos 8kms, sou ultrapassado pelo pacer dos sub50'. Sabia que um tempo abaixo dos 50' estava fora de questão, mas teria de manter um bom ritmo para não deitar tudo a perder nos últimos 2kms. Fechei os olhos, cerrei os dentes e gritei mentalmente para as pernas se mexerem ou atirava-as ao mar.

Entro no último km, olho para o relógio e marcava 48' e fiquei naquela "Sub60' já faço de certeza, sub50' já não faço de certeza, mas um sub55' é bem possivel!". Decido que depois de contornar a rotunda em direção à meta que ia fazer um sprint final, mas não passou apenas de um pensamento, pois as pernas não aceleravam mais nada. Ao aproximar-me da meta vejo o tempo e ia ficar na casa dos 53'.

Cortei a meta com uma alegria tal que mais parecia que tinha feito uma maratona em menos de 3h! Fui buscar a medalha e tive pena de não ter lá a namorada para o beijinho da vitória e a mana para a foto da praxe. Consegui, desta forma, atingir o objetivo de melhorar o tempo da última prova e ficar num tempo próximo daquele que fazia quando comecei nisto das corridas. Há ainda trabalho para fazer, mas esta corrida deu-me outro ânimo para encarar a Maratona de Lisboa no dia 15 de outubro. Mais uma vez, não vou lá para melhorar tempo pessoal na distância, mas sim para a terminar sem problemas. Se o vou conseguir, acho que sim. Basta meter a cabeça a funcionar quando as pernas quiserem desistir.


Sobre a organização e prova em si. É uma prova que gosto e onde não inventando muito conseguem ter algo de muito positivo. O percurso é desafiante o suficiente para se tentar, anos após ano, bater recorde pessoal, temos o mar a brindar-nos mais de metade da prova, é um percurso propício a que haja público a incentivar-nos e há animação em vários pontos. Os blocos de partida e as vagas também ajudam a quem de acordo com os seus ritmos, o pessoal não se ande a empurrar/acotovelar/pisar durante a parte inicial. É daquelas provas onde realmente gosto de participar.