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domingo, 26 de julho de 2015

Falsas promessas.

- Então oh Barbas, tu que disseste durante o Monte da Lua que nunca mais ias fazer um Ultra Trail, ou pelo menos, nos tempos mais próximos, o que estás a fazer nos 60K do Ultra Trilhos Pena da Rocha?

- Oooh eu digo muita coisa de cabeça quente! Nem quero imaginar o que direi quando tiver a mioleira sobreaquecida do calor do Algarve!

terça-feira, 21 de julho de 2015

Ultra Trail Sintra Monte da Lua 2015 - A força da união.

"Daniel, vamos, levanta-te."
"Daniel, se queres descansar tens de chegar primeiro que eu lá acima."
"Daniel, na praia vamos ter de correr ou ficamos sem tempo.
"Daniel, aperta contigo!"
"Parabéns, Daniel, és ultra trailer!"

Esta é o relato de uma prova que se transformou numa luta contra o relógio mas que o coração falou mais alto que as pernas.


O Ultra Trail Sintra Monte da Lua já estava nos meus planos muito antes das inscrições abrirem. Seria o meu segundo ultra - depois de Piodão - e tinha planos para lá chegar bem preparado e fazer um bom tempo. Mas a vida dá muitas voltas e acabei por ir perdendo o ritmo de treino nos últimos tempos, pelo que decidi, duas semanas antes, que a prova seria para aproveitar.

No sábado, levantei-me às 6h da manhã. Tinha combinado ir buscar o Filipe a Rio de Mouros e não me queria atrasar. Tentei comer qualquer coisa, mas para onde quer que olhasse, tudo me fazia agonia, pelo que saí de casa sem comer nada. Na hora marcada lá estava no ponto de encontro e passado 2 minutos, surge o Filipe a correr. Seguimos então para a Praia das Maçãs, onde o Paulo entregou o dorsal ao 42. Entretanto, mais pessoal se vai juntando, naqueles minutos de nervosismo que antecedem o arranque das provas, incluindo alguns Gafanhotos que iriam fazer a prova, distribuídos pelas duas distâncias. Para me acompanhar nos 50km+, o Daniel Oliveira, que se iria estrear nos ultras.

Depois da partida, houve logo quem quisesse molhar os pés; os que não quiseram, tiveram de esperar num pequeno engarrafamento. O início é aquilo que a Horizontes já nos habituou: estradões e trilhos de fácil progressão que servem para entrarmos no ritmo de cada um. Até ao primeiro abastecimento sólido foi tranquilo e a bom ritmo. Foi aqui, enquanto comia qualquer coisa, que o Daniel me apanhou, ainda sorridente e relativamente fresco. Como estava de saída, trocámos algumas palavras e eu segui.

A passagem pela Quinta da Regaleira é qualquer coisa de extraordinário. Quem não conhece, fica com vontade de lá voltar para uma visita com a devida atenção. Passámos por centenas de turistas que se riam e desejavam força quando nos cruzámos com eles. Descer a escadaria do poço e atravessar as grutas, é algo que nenhum atleta vai esquecer.

Ao km 30 ia com um bom tempo. Olhando para o relógio pensei que talvez fosse capaz de cumprir as 8h30m que tinha em mente. Tinha cerca de 4h para fazer os 20 e poucos kms que faltavam. Quando me estava para ir embora, aparece de novo o Daniel, todo contente da vida com o que estava a alcançar. Mas a partir daqui a prova tomou um rumo inesperado para quase todos os atletas. A dificuldade cresceu mais rápido que as escadas que tivemos de subir e as rochas que tivemos de galgar. A falta de treinos, quer de escadas quer de subidas, fez-se sentir. A humidade do microclima da Serra de Sintra, não ajudou em nada. Quando parei para dar uns retoques nos ténis, fui ultrapassado pelo Daniel, que viria a encontrar umas dezenas de metros mais à frente, a comer e a descansar. Foi a partir daqui que a minha prova se tornou numa espécie de "apadrinhamento" ao Daniel. Não mais o abandonei, apesar dos seus pedidos para eu seguir ao meu ritmo. Mas vi nele aquilo que senti em Piodão, quando nos momentos em que estava mais em baixo, os amigos do Correr na Cidade me deram um alento para continuar, e decidi ficar com ele.

A prova, a partir daqui até ao abastecimento que antecedeu as arribas do Cabo da Roca, foi um sobe sobe constante e um ofender as subidas interminável. Ao virar de cada curva estava mais uma subida. A cada subida era preciso parar para se descansar e baixar o ritmo cardíaco. Alternávamos entre a humidade do interior da Serra com o calor seco das zonas desprovidas de árvores. Quase no final da subida para a Peninha, valeu-me o já ali ter feito um treino e saber da fonte com água fresquinha, que nos soube pela vida. A nós e a todos aqueles que chamávamos para ali se refrescarem. 200m mais acima (de distância, não de desnível) o último abastecimento sólido. Aqui, dizem-nos que vamos até ao Cabo da Roca, que temos pela frente umas "arribazinhas" e que no final há lá mais um abastecimento. Disse ao Daniel que as arribas não iam ser pêra doce, que a partir dali é que ia doer a sério, mas ele disse que tinha de ser e lá arrancámos. Por esta altura ele já não corria muito. Por causa da dureza da prova, da falta de treino e por causa de uma dor num pé. Quando ele viu as arribas e os atletas que iam à nossa frente, do tamanho de formigas, a alma dele morreu ali um pouco. O desce e sobe e desce e sobe, partiram o que ainda não estava partido das pernas e braços. A cada oportunidade para se sentar e descansar, ele aproveitava. E eu também. A diferença é que eu chegava primeiro e lhe dizia que se queria descansar mais teria de chegar primeiro que eu lá acima. Não foi capaz, mas fez com que ele não perdesse o ritmo. No último abastecimento, estávamos quase com 10h de prova e disseram-nos que ainda teriamos cerca de 1h30m de caminho até à meta. Arrancámos e, sempre que possível, pedia ao Daniel para correr. As últimas arribas foram feitas num anda/descansa constante, com paragens que me faziam temer o relógio. Quando finalmente as ultrapassámos ainda nos esperava uma imensa subida em estrada de areia da praia. A seguir a isto, a enorme escadaria para a Praia Grande, ria-se à nossa espera. Foi então que lhe disse que na praia teríamos de correr, ou não iríamos cruzar a meta dentro do tempo limite. Corremos a orla da praia quase toda, é verdade, mas aquelas centenas de metros que foram corridos, ditaram o desfecho da prova. Depois da Praia Grande, a meta estava quase ao virar da esquina. A cerca de 500m da meta, passa por nós um atleta a correr, a quem o Daniel pergunta se aquilo era só vontade, e ao que a resposta veio sob tónico para corrermos "está quase a terminar o tempo!". Fomos então no encalce daquele atleta e começamos a ver ao longe a Praia das Maçãs. Disse ao Daniel para ir à minha frente. Entrámos na areia da praia e corremos até à meta. Faltavam 3minutos para as 12horas terminarem! Abracei-o e dei-lhe os parabéns por ser Ultra!

Depois, atacámos a melancia, já com a medalha ao peito, e fomos meter-nos debaixo do chuveiro da praia. A verdade é que ia com a ideia de fazer um melhor tempo que Piodão. A distância era a mesma e, supostamente, o Monte da Lua seria mais fácil. No entanto, algo mais forte que terminar a corrida num melhor tempo se levantou. O ajudar um amigo e companheiro de equipa a terminar o seu primero Ultra, é uma sensação melhor que terminar a prova em 8 ou 9horas. Aquele sorriso que ele tinha no final, igual ao que eu tinha em
Piodão, valeu por tudo. Para ti, Daniel, muitos parabéns por seres ultra!

Sobre a Horizontes, já o disse, mas volta a dizer: adora as provas por eles organizadas. Desde a Ericeira, ao Circuito Centro, até ao Monte da Lua, não tenho nada de mau a apontar. Os percursos são sempre interessantes, desafiadores, lindos, as marcações impecáveis e os abastecimentos o suficiente para ninguém se queixar. Muito obrigado também a vocês.

Quanto a mim, para o ano espero lá estar de novo, mesmo que tenha passado muitos kms a dizer que "Ultras?! Nunca mais!"

terça-feira, 14 de julho de 2015

um, dois, três... faltam 3 dias!

Faltam apenas 3 dias para o Ultra Trail Monte da Lua, aquele que eu esperava estar mais que preparado, quando me inscrevi há meses. Agora, quando os dias que faltam se podem contar pelos dedos de uma mão de um gajo que até perdeu alguns a cortar fiambre, custa-me subir 20 degraus seguidos.

E quando olho para o gráfico, todo eu choro por dentro.....


Mas, olha, assim tenho alguma coisa que contar durante as férias que começam nesse dia!

segunda-feira, 6 de julho de 2015

I Treino de Trilhos by Pernas de Gafanhoto - Praga de Gafanhotos invade Monsanto

Foi com algum nervosismo que na passada quinta-feira (2 de julho), às 19:02, estacionei o carro no parque perto da Pastelaria Califa. À minha espera já lá estavam o João e o Paulo. A pouco e pouco foi chegando mais gente, uns Gafanhotos, outros não Gafanhotos. Quando pedi a atenção de todos para apresentar o treino, éramos 23 pessoas, prontas para o 1º Treino de Trilhos dos Pernas de Gafanhoto. (Quem ainda não conhece, pode ver a página do Facebook AQUI)

Com alguns minutos depois da hora prevista, estreantes, iniciantes, "habituantes" e alguns batidos, todos arrancámos num percurso que pensei ser o indicado para esta heterogeneidade de corredores. Com algumas subidas suaves, com algumas subidas agressivas, com estradão, com alcatrão, com trilhos técnicos, com descidas que deixam os quadríceps em brasa, todos conseguiram terminar o percurso vivos e a sorrir. A força de um grupo percebe-se pelo seu elemento mais "fraco" e, neste grupo, fomos muito fortes. Ninguém ficou para trás, ninguém ficou a sentir que estivesse a atrasar o grupo. Cada um correu o que conseguiu e como conseguiu. No final do treino, já a noite se tinha levantado, os 15kms com cerca de 380D+, foram concluídos em 2horas e 30minutos. Treino de brincadeira para alguns, treino de autêntica superação para outros, todos estavam felizes e com vontade de repetir a dose. Noutro dia, claro, que a hora já pedia o belo do jantar. Ficou a promessa que o próximo treino acontecerá brevemente.

Quanto ao treino, houve falhas. Talvez não sejam falhas, mas arestas a limar. Orientar um grupo de 23 pessoas é difícil, mais difícil que aquilo que se possa pensar! Valeu-me a grande ajuda do João Campos - a quem envio um enorme obrigado - e a de outros corredores conhecedores de Monsanto.

A todos os presentes só posso dar o meu muito obrigado por terem estado presentes, por terem aceitado o desafio, ainda por cima sendo orientado por alguém que se perdeu na primeira vez que foi para Monsanto sozinho. Esperam que também tenham gostado, que tenha sido um início de noite diferente e agradável, que os estreantes tenham ficado com o "bichinho" do trail e que os "batidos" ficado com vontade de se juntar a nós no próximo treino.